Imaginem
ver o quadro “Mona Lisa”, de Leonardo da Vinci em uma réplica! Imaginem ver o
quadro de da Vinci no Louvre, a obra original! É quase a mesma sensação, aquela
de estar dobrado ao criador. Aos fatos reais. Mas, Billy Elliot, que nada tem a
ver com Mona Lisa e da Vinci, é ainda mais. Billy Elliot é o movimento do
sonho, as cores e a voz. É um musical que não nos permite colocar defeitos, e
faz-nos cometer a indelicadeza de deixar elementos de fora. São tantos, que
fica difícil organizá-los num só texto.
Tomar
um avião em direção a Broadway é como cumprir o desejo de qualquer amante da
arte musical, é gozar de uma das mais belas vertentes do teatro e da música. Um
musical é o casamento perfeito de duas artes, é a fusão de duas paixões
mundiais. Inegáveis. Dessa vez, o avião veio pra cá trazendo o elenco original,
tudo em inglês, como a gente tanto sonhou em ver aqui. Billy Elliot vem na pele
inglesa, sob a direção de Stephen Daldry e músicas de Elton John.
O
livro de Lee Hall é inspirado numa história... ou melhor, em inúmeras
histórias. Billy Elliot descobre a vocação pela dança, e substituí as aulas de
boxe pelo balé. Para desenvolver sua aptidão, precisa da aprovação do pai, um
homem machista. Naquele período, a Inglaterra cravava uma onda de greve contra
o governo de Margaret Thatcher. Este pai, minerador e grevista vê-se entre o
sonho do filho e a honra aos operários da greve. Por esse norte, caminha o
espetáculo, a descoberta de um sonho e os percalços de sua realização.
Um
homem bailarino também dança em volta dos preconceitos, como se o balé fosse
propriedade feminina. Billy encontra-se cercado por esse tipo de “bullying”.
O espetáculo
da iluminação de Rick Fisher é um musical à parte, impressionante, como a
guitarra que adentra a orquestra para fazer trilha a um número de balé.
Assistir àquele rapazinho, de tão pouca idade, suportar dois atos sob as pontas
dos pés é no mínimo sublime.
Movimentar
uma vila, utilizar muros, portas e chão, como se fosse um corpo cheio de curvas
e elástico é a proposta do cenário intrigante e habilidosamente arquitetado por
lan MacNeil.
Mitchell
Tobin representava Billy quando assisti. O garoto reencarnava a Broadway com
todos os atributos de um gigante ator.
A
sensação de entender um musical à parte das legendas é reconhecer a maestria de
sua direção e a musicalidade impecável das letras, da orquestra e dos
intérpretes. Nós, os brasileiros, não estamos devendo nada para a Broadway.
Mas, vê-la em nosso território é mágico. É belo!
Dentro
de um figurino atípico para um bailarino, o pequeno rapaz desenvolve passos
envoltos em disciplina e com a rigidez exigida pela dança. O caráter pueril do
jovem permanece intacto em todo o espetáculo e isso torna-o ainda mais belo.
Não contentes em esbanjar jazz e balé, sapecam números de sapateado retumbando
pelo nosso corpo as batidas dos pés de várias idades sobre o palco.
“Billy
Elliot” é encantador. Desce por entre a plateia, junta-se a um grupo imenso de
atores no palco, reúne-se ao som da exorbitante orquestra, banha-se de uma luz irreparável
e torna-se um musical sem tamanho, ilimitado, magnífico.
“Billy
Elliot” revira nossas estruturas, respinga no coração e sai inflando pelos
olhos.
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