Ela
desceu dos trios elétricos, e desceu “Pelada”, como intitula sua nova turnê.
Calminha, mas com uma energia de quem ainda parece cantar no vão do MASP,
Daniela faz um quase acústico e desabrocha suas composições num jeitinho
romântico e entrelaçando poesias. O show “Pelada” esteve na semana passada no
palco do Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros, em São Paulo.
As
pernas de Daniela tornearam o palco, que era cortado por uma iluminação
interessante, capaz de irritar qualquer fotógrafo.
A
baiana declarou mais uma vez o seu amor por Malu Verçosa e dedicou-lhe um texto
capaz de tornar pó qualquer “Feliciano”. Logo engatou a canção “Meu Plano”, de
Lenine, tornando o espetáculo mais sublime que seu próprio contexto.
Eu
sonhava em ver Daniela numa arena mais acústica, só pra sentir saudades de todo
aquele axé e reggae. E digo: já estou com saudades. Não é pra qualquer um,
dançar e cantar sem esvoaçar o fôlego.
Daniela
brinca com a respiração nas terminações e coloca em prática a física do trio
elétrico.
Quase
pelada, dentro de uma masculinidade singelamente feminina em um blazer e uma
camisa. Como quem sai zanzando pela manhã com a primeira roupa que encontra
arremessada ao chão. Aponta à plateia com intimidade e torna canções que
ficaram lá atrás como se as estreasse em mais um auge de sua carreia. Daniela é
uma mulher de mais de um auge.
Daniela
acaricia os nossos ouvidos entregando-nos a doçura de sua voz e o solfejo de
letras exprimidas de tantos amores. Utiliza de poesias para tornar ainda mais
nobres as suas influências. Cheia de textos e de histórias para contar, como
uma menina nostálgica que peita o presente.
“O
Canto da Cidade” é a tradução dessa baiana, porque onde ela pisa faz-se o
sentido da canção em seus movimentos. Ela é o canto de qualquer cidade. Ouvimos
Daniela em qualquer canto, não apenas como alguém que agita multidões num trio,
não uma ativista política, ou formadora de opinião. Daniela é ouvida como peça
fundamental da música popular brasileira. Revive sambas e até o que ainda
iremos reviver.
Os
batuques africanos, que saem de dentro da negra cor em pele branca de Daniela,
não deixam de apresentar-se na versão mais acústica de sua temporada. E ao
final, ela volta ao trio, e com sua ninhada (os filhos) desce a Bahia para São
Paulo. “Música de Rua” e “Canto da Cidade” vieram das ladeiras do pelourinho
pra debaixo do vão do MASP, como foi no princípio.
Não
vejo Daniela como marketing. Vejo-a como uma mulher corajosa e cheia de notas e
referências!
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